Duvido que você vá ao Rio de Janeiro e não tire uma foto no Leblon ou Ipanema com o famoso Morro Dois Irmãos.
Um dos mais belos cartões postais da cidade encanta a qualquer hora do dia: pela manhã com a praia tranquila, ao por do sol, quando o morro ganha mais cores, ou a noite, com as luzes do Vidigal, que parecem vaga-lumes na noite carioca.
Sempre fiquei curioso para saber como era a vista lá de cima, aí de uns anos para cá vários guias começaram a oferecer a Trilha Dois Irmãos, e eu fui correndo conferir este passeio.
Como reservar o passeio à Trilha Dois Irmãos
Fiz a trilha com a Ana Lima do site Dois Irmãos, moradora do Vidigal. Foi uma experiência muito legal, tanto pelo conhecimento da trilha como pelas informações sobre a comunidade.
Para reservar a Trilha Dois Irmãos apenas entrei no site e depois combinei pelo Whatsapp, foi tudo muito prático e rápido.
Vale lembrar que a Ana Lima é guia credenciada pelo Ministério do Turismo.
Reservei o horário da manhã, mas tem sempre duas saídas por dia: às 8 h e às 13 h. Na minha opinião, o melhor horário para trilhas é cedo, ainda mais numa cidade quente como o Rio de Janeiro.
Segurança
Uma questão que muita gente pode ter dúvida é quanto à segurança. O Vidigal é pacificado, tem uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) lá.
É bem verdade que ultimamente a violência tem crescido no Rio de Janeiro, mas não tenho relatos de ter prejudicado a trilha, por isso é importante ir com guia, já que obviamente eles não colocariam turistas em risco.
Muitas pessoas fazem esta trilha por conta própria, e é possível. Basta chegar na entrada da comunidade do Vidigal e logo na primeira rua tem um ponto de onde saem as kombis para o início da trilha, o valor é R$ 5,00.
Porém, quer minha dica ? Faça com guias. Sabe por quê ?
Eu acredito muito numa forma de turismo responsável e sustentável, assim você estará fomentando a economia local. Digo o mesmo para consumo, procure comprar água e lanches dentro da comunidade, assim você estará contribuindo de forma direta para o desenvolvimento do Vidigal.
Escrevi sobre turismo sustentável e responsabilidade social neste artigo. Clique aqui.
Ponto de encontro e início da Trilha Dois Irmãos
Marquei com a Ana para nos encontrarmos no Sheraton, o hotel que fica na Av. Niemayer a menos de um quilômetro da comunidade. Repare que o hotel tem uma praia privativa, já tinha ido muitas vezes ao Rio e nunca a tinha visto.
Pontualmente ela nos encontrou ali e fomos a pé até a entrada do Vidigal.
Não foi a primeira vez que fui à comunidade, dois anos antes tinha me hospedado no Mirante do Arvrão, um hostel que fica na parte alta do morro com um visual incrível.
Da entrada do Vidigal até o começo da trilha fomos de van. É bastante interessante (e até emocionante) como os veículos circulam pelas ruas estreitas da favela. Em 2014 fiz várias vezes este percurso e achava bem divertido.
A trilha é curta, tem apenas 1,5 Km com duração aproximada de 40 minutos, porém pode demorar mais ou menos dependendo do preparo físico de cada um.
O começo da Trilha Dois Irmãos é ainda na própria Comunidade do Vidigal, entre as casas. Evite conversar alto ou fazer barulho, para não atrapalhar o sono das pessoas, ainda mais se for final de semana.
Você gostaria de ver dezenas de pessoas caminhando na frente da sua casa todos os dias e fazendo barulho ? A Ana vai avisar sobre isso.
Sempre é importante lembrar o uso de calçado adequado, apesar de são ser uma trilha longa usar uma bota de trilha ajuda e muito na caminhada.
Caso não faça trilhas sempre e não queira investir é possível ir com tênis, mas por favor, não vá com chinelos ou sandálias, vi muitas pessoas assim por lá. Além de cansar o dobro não é seguro, pois existem pontos da trilha à beira de precipícios. Bota dá muito mais estabilidade.
A primeira parte da Trilha Dois Irmãos é bem íngreme, vá com calma, controle a respiração e siga em frente. Eu já fiquei ensopado de suor logo aí.
Logo no começo, no meio de uma clareira, encontramos um vendedor de água, refrigerantes e sucos. Paramos por alguns minutos, lembro-me que tinha uns bancos por ali.
Outra dica que aprendi em trilhas, é sempre olhar onde coloca a mão, às vezes podemos nos apoiar em galhos ou árvores com espinhos. Também é preciso cuidado para não puxar algum galho e este ao voltar atingir quem está atrás de você. Parece óbvio mas já aconteceu várias vezes comigo.
Um primeiro mirante
Caminhamos por um trecho de mata mais fechada, até que chegaremos a um primeiro mirante.
Impressione-se com o tamanho da Rocinha, e veja como a comunidade vai se espalhando pelos morros da cidade. Compondo a paisagem, já vemos adiante a Pedra da Gávea, a qual já está na minha lista para conhecer.
Mas vamos continuar. Outra coisa que aprendi em trilhas é não deixar o corpo esfriar, está certo que você vai querer fotografar tudo.
Confesso que fiquei com bastante medo, porque neste primeiro mirante não existe proteção alguma entre a pedra e o abismo.
Última etapa, trilha plana e aberta
O trecho seguinte é aberto e mais plano, aquele tipo de trilha que mais gosto. Vale a pena caminhar e olhar para trás de vez em quando apreciando a cidade e o mar.
Mesmo sendo uma trilha que em muitas partes está em mata fechada não esqueça o protetor solar, mesmo porque, quando chegar ao cume, tenho certeza que vai querer curtir o visual por algum tempo, e aí o sol pode estar forte.
Mais um pouco de caminhada e chegamos ao cume!!
O cume do Morro Dois Irmãos
O Rio de Janeiro é uma cidade de montanhas, e existem muitos mirantes, porém este tem um diferencial: proporcionar um visual de 360 graus.
A altitude aí são 533 metros e a gente tem uma visão fantástica da Zona Sul como Leblon, Ipanema, Lagoa Rodrigo de Freitas, Corcovado e as Ilhas Cagarras.
Agora é momento de descansar, comer alguma coisa e tirar muitas fotos. Galera, sei que todos querem registrar o momento, mas tentem não “monopolizar” a paisagem, pois todo mundo quer fotos.
Tire algumas e libere a vista para as outras pessoas, quando estive lá tinha gente que fazia mil poses e atrapalhava todo mundo.
Ali perto tem um outro mirante mais voltado ao mar, com uma pequena pedra que se projeta desde o cume. Fui até lá de curioso, mas sempre tome muito cuidado.
Descendo a Trilha Dois Irmãos
Bom é hora de voltar.
Muita atenção em descidas, porque o esforço sobre os joelhos aumenta e muito, parece sempre mais fácil porém exige muito cuidado.
Uma vez, fazendo trilha na Serra do Mar, em Paranapiacaba o guia me alertou que eu caminhava fazendo muito impacto no joelho e que poderia ter problemas no futuro, passei a monitorar isso. Vantagens de ter guias experientes com a gente.
A primeira vantagem é a descida: afinal todo santo ajuda, a segunda é que naquela parte aberta você vai caminhar com um visual lindo à sua frente.
O Bar da Laje e Escola Vidigal
A Ana vai te levar ao Bar da Laje, e aí já está liberado uma cervejinha como recompensa, afinal o exercício do dia já está pago.
Lembra que falei para consumir por aí ? Pois é, é momento de pensar nisso, assim você incentiva o comércio local.
Tão interessante como a própria trilha é um passeio pelo Vidigal, e a Ana vai mostrar algumas coisas interessantes.
Ela nos levou até o Mirante do Arvrão, um hostel/hotel super descolado, no qual eu já havia me hospedado dois anos antes.
Vale lembrar que o Vidigal é queridinho de estrangeiros, que se encantam com a forma que a favela cresceu entre pequenas ruas e becos.
Outro ponto super interessante é a Escola Vidigal, focada em artes e tecnologia para crianças, a qual foi idealizada por Vik Muniz.
Vik Muniz é um artista plástico brasileiro e trabalha com materiais diferentes em suas obras: como arame, lixo e materiais recicláveis.
A Escola Vidigal tem uma arquitetura bastante interessante, toda conectada por passarelas, tem espaços para aulas e oficinas. O mais legal é que os materiais utilizados são os mesmos das casas do Vidigal, com o tijolo aparente, sendo assim a escola se mistura com as outras construções do morro.
Sacolé e Arte de rua
Continuando o tour pelo Vidigal, passando por escadarias e trechos bem estreitos. Vamos vendo o dia a dia da comunidade, em um das casas experimentamos sacolé.
Alias sacolé é um nome bem carioca, deixem um comentário falando como é no seu estado. Aqui em São Paulo, chamamos o “sorvete de saquinho” de chup chup ou geladinho.
Caminhando mais um pouco entendemos também porque o Vidigal tem este apelo forte com arte de rua, pois veremos muitos e interessantes grafites. Impossível não parar e fotografar todos.
Fique atento ao colorido e extravagante Estúdio Galeria Wilson Alexandre. Uma casa toda construída com materiais alternativos, diferentes tipos de portas e janelas coloridas e algumas esculturas como robôs e transformers feitas com materiais recicláveis.
Outra vantagem de estar com guia é poder ver detalhes que sozinhos não conheceríamos, como por exemplo os grafittis do Wark da Rocinha. Um dos artistas de rua mais reconhecidos do Rio de Janeiro.
Apesar se ele ser da Rocinha, não vai ser difícil encontrar sua arte em outros lugares do Rio e até no mundo. Sua marca registrada são os anjos. Peça para a Ana te mostrar.
Além de ser uma atividade ligada à natureza este é um passeio também cultural, o qual mostra um pouco da realidade da Favela do Vidigal, os projetos sociais e a arte de rua.
Está com pessoas que não conseguiriam fazer a trilha ? Que tal levá-los para o Parque Dois Irmãos, logo abaixo do penhasco ?
Conhece a Trilha para o Morro da Urca, também fiz e conto tudo no artigo.
Abraço, por favor comentem e compartilhem este artigo, assim vocês me ajudam a divulgar meu blog.
Autor do blog, é formado em Ciência da Computação e atua com Marketing Digital e e-commerce por mais de 10 anos.
As viagens por quase 40 países são a inspiração para produção de conteúdo.
Além do blog, o autor escreve para colunas de turismo em jornais da região de Campinas e é blogueiro associado do Portal UAI de Minas Gerais.