Aí você vai viajar de férias para Buenos Aires, e entre os lugares mais conhecidos da cidade está o Cemitério da Recoleta.
O que ? Deixar de ver as belas avenidas da capital portenha para ir em um cemitério ?
Olhava com um pouco de preconceito o passeio pelo Cemitério da Recoleta, mas era minha primeira vez na cidade e precisava “ticar” a atração.
O Cemitério da Recoleta
Caminhando pelas bonitas ruas do bairro cheguei ao badalado cemitério. O lugar em si já chama a atenção, pois têm túmulos que são grandes obras de arte.
Mas queria mesmo visitar o túmulo mais famoso, se posso falar assim, do Cemitério da Recoleta.
Os restos mortais de Evita Perón repousam neste cemitério. O túmulo é muito procurado por turistas, já que, toda a história que envolve a morte da grande primeira dama argentina, é cheia de mistérios.
Evita Perón morreu em 1956, e o corpo fora sequestrado, levado para Milão e enterrado lá com um nome falso.
Como Evita tinha uma personalidade muito amada na Argentina, os militares, que tinham dado um golpe no governo de Perón, acreditavam que ela se transformaria num símbolo de resistência, mesmo depois de morta.
Por isso, sumir com o corpo da Argentina, tornou-se uma solução.
Em 1971, durante o exílio de Perón, o corpo de Eva Perón fora exumado e enviado para Madrid, onde o ex presidente vivia. Somente em 1974 o corpo retornou à Buenos Aires, para assim ser definitivamente enterrado no Cemitério da Recoleta.
Dizem que o processo de embalsamento foi tão perfeito, que Evita parecia estar dormindo, mesmo depois de todas estas idas e vindas.
O corpo de Eva Perón viajou bastante, e vários mistérios e lendas envolvem esta história. Uma delas é que o médico responsável por embalsamar o corpo teria se apaixonado pelo cadáver de Evita, relutando por meses a entregar o corpo.
Já conhecia toda esta história, e tinha assistindo Evita, o famoso musical estrelado por Madonna e Banderas. Acho o filme super chato, mas por conta dele passei a procurar saber mais sobre Eva Perón, a qual se referia ao povo mais pobre como “descamisados”.
Quando cheguei no Cemitério da Recoleta fiquei completamente perdido, queria visitar o túmulo e não tinha ideia de como encontrá-lo. Foi então que um funcionário me explicou.
Acho que eles já estão cansados de explicar isso todo dia, por isso vou deixar um mapinha aqui, caso queira visitar um dos túmulos mais badalados do mundo.
De forma geral, o Cemitério da Recoleta me impressionou bastante, pois é possível ver os caixões apodrecendo em alguns túmulos, bastante curioso.
Pére Lachaise – o cemitério das personalidades de Paris
Esta visita ao famoso cemitério argentino não foi minha primeira experiência do tipo. No meu primeiro mochilão, quando fui à Paris, fiz questão de conhecer o Cemitério Pére Lachaise.
Mas por que conhecer este cemitério na bonita Cidade Luz ? Vamos lá, se tem um lugar com gente famosa enterrada é este, Pére Lachaise parece ser o queridinho das celebridades.
Vários famosos têm sua última moradia por lá: Chopin, Maria Callas, Edit Piaf e Jim Morrinson, cantor do The Doors são alguns exemplos. Porém, vários outros filósofos, escritores e pintores famosos também foram sepultados no Pére Lachaise.
O túmulo de Alan Kardec, o grande decodificador do Espiritismo, também fica no conhecido cemitério de Paris.
A visita ao cemitério é agradável, tem gente fazendo lanche e tirando fotos.
Cemitério de Granada, onde fui expulso por tirar fotos
Naquele mesmo mochilão, já com experiências no turismo em cemitérios, me atrevi a entrar em outro: o Cemitério San José em Granada, na Espanha.
Na verdade, entrei no cemitério para conseguir uma foto da Sierra Nevada, onde os ângulos entre os túmulos eram perfeitos.
Caminhava por ali tirando fotos, quando uma senhora grita: “No se puede sacar fotos en el cementerio !!!!”
A brava espanhola praticamente me expulsou de lá. E eu, meio envergonhado, abaixei a cabeça e sai.
Sinceramente, não vejo problemas em tirar fotos de cemitérios, mesmo porque fazia com todo respeito. Que pensam sobre isso ?
Muitas vezes cemitérios são grandes museus a céu aberto, já que famílias contratam escultores para adornar a última morada de seus entes queridos.
Moro pertinho de São Paulo, e ainda não conheci o Cemitério da Consolação, o qual já li muito sobre a beleza dos mausoléus.
Porém, conheci outro cemitério bem curioso no Brasil.
O Cemitério dos Alemães em Pomerode
Este antigo cemitério está localizado no Vale Europeu, na região de Pomerode.
Dirigia pelas bonitas estradas de Santa Catarina, quando de repente, no meio de muito verde, vejo um cemitério que parecia abandonado.
Resolvo parar o carro, era final de tarde e não tinha ninguém na estrada, muito menos dentro do cemitério, mas curioso como sou, entrei para conferir.
Comecei a caminhar e tentar ler as lápides, porém a maioria tinha inscrições em alemão. Este é o Cemitérios dos Imigrantes, onde existem túmulos do final do século XIX.
Uma parte do cemitério fica num plano elevado, sempre com muito verde ao redor. De um determinado ponto temos uma bonita vista para os vales da região.
Imperdível ? Não sei. Depende do seu nível de curiosidade.Para mim foi interessante ver e conhecer a influência alemã no sul do nosso país.
Falo sobre Pomerode e Corupá neste artigo, dá uma olhada, tem dicas bem legais.
É legal quando cemitérios nos ajudam a entender a história dos locais. Este em Pomerode me chamou a atenção, pois apesar de saber que os alemães imigraram para Santa Catarina, não tinha ideia de quanto eles mesclaram sua cultura com a nossa.
Você, pai e mãe, levariam seus filhos para conhecer um cemitério ?
Quando criança, ia sempre com minha mãe ao cemitério da minha cidade. Enquanto ela visitava o túmulo de meus avôs eu brincava de contar a idade que as pessoas tinham morrido.
Lembro-me que minha mãe me incentivava, tanto pela lado da matemática, subtraindo a data de nascimento da data da morte, quando pelo lado da vida, entendendo que a morte é um processo derradeiro que não tem como escapar.
Minha família sempre tratou o assunto da morte como natural. Lembro-me de ir à velórios e enterros quando tinha 7 anos. De certa forma, acredito que isso me ajudou a entender melhor a vida.
Anos atrás, o pai de um amigo morreu, e este não permitiu que seu filho de 8 anos fosse ao enterro. Dias depois, diante das repetidas perguntas da criança, meu amigo apenas disse que o “vovô” tinha ido “morar com o Papai do Céu”.
Eu faria totalmente diferente, mas não existe receita certa para paternidade e maternidade, não é mesmo ?
Bom, vamos voltar ao assunto de turismo, afinal este é um blog de viagens e não de filosofia.
O Cemitério mais colorido do mundo
E quando o cemitério é alegre ?
O cemitério mais colorido do mundo está localizado em Chichicastenango, na Guatemala.
A cidade é famosa por um imenso mercado, onde podemos ver toda a originalidade do colorido artesanato guatemalteca.
Lá, tradições maias e católicas se misturam num sincretismo muito bonito.
Eu já sabia da existência deste cemitério e me recusava a sair da cidade sem conhecê-lo. Estávamos perdidos nas ruas estreitas e de repente vi algo colorido numa colina.
Antigamente os túmulos eram pintados de acordo com características da pessoa, como branco representado a pureza, turquesa para as mães, e outras cores com outros significados.
O resultado disso é uma explosão de cores, o que traz uma ideia completamente diferente dos cemitérios tradicionais. Porém, o famoso cemitério da Guatemala tem uma história polêmica.
Os túmulos funcionam como leasing, ou seja, as famílias precisam pagar uma espécie de aluguel pelos mesmos. Acontece que na Guatemala, se a família não paga, os corpos são exumados, colocados em sacos plásticos e etiquetados.
Caso a família não reclame os corpos, os mesmos são enterrados novamente numa cova comum, digamos assim. O que mais impressiona neste processo, é que muitos corpos exumados estão mumificados e com bom estado estado de conservação.
A cena dos homens arrebentando os túmulos com marretas e retirando os corpos é algo impressionante e assustador. Não presenciei isso, mas vi as fotos em diversos sites.
Quer ver ? Achei esta matéria da Reuters. Cuidado, as imagens são fortes.
Enquanto o cemitério da Guatemala tem túmulos com diferentes formas e cores, existem outros que seguem um padrão homogêneo.
Cemitério dos mortos na Guerra de Sarajevo
Estive em Sarajevo, a capital da Bósnia. Depois de ter conhecido os principais pontos turísticos, observei que a cidade, localizada num grande vale, era ladeada por muitos cemitérios.
Foi então que consegui convencer um amigo a ir comigo. Não é fácil convencer alguém a conhecer um cemitério numa viagem de férias.
Era verão europeu, porém estava bastante frio naquela tarde cinzenta de Sarajevo.
A cidade foi palco de uma guerra sangrenta nos anos 90. Acho que foi a guerra que mais acompanhei, pois já tinha quase 20 anos e lembro-me perfeitamente de ver nos noticiários da televisão.
Durante a guerra, estima-se que mais de 12.000 pessoas morreram, e por isso a enorme quantidade de cemitérios. Os túmulos em Sarajevo são pequenos postes brancos, em formato de seta, apontando para o céu.
Quando vi a data das mortes, observei que a maioria era de 1995, quando a guerra terminou.
Para contrastar a visita reflexiva, em alguns destes cemitérios, temos uma vista panorâmica interessante de Sarajevo.
Conto tudo sobre a Bósnia aqui.
E a gente viaja e aprende
Obrigado leitor, que hoje viajou comigo por alguns cemitérios do mundo. Acharam que este artigo foi muito macabro ?
Eu acredito muito numa forma de viajar com aprendizado.
Em todos os lugares acima aprendi alguma coisa.
No Cemitério da Recoleta aprendi que a morte não apaga os feitos de uma pessoa, já que Evita Perón ainda tem uma presença muito forte na Argentina, Pére Lachaise me ensinou que podemos ter fama, reconhecimento, inteligência e dinheiro, mas o fim é igual para todos.
Pomerode me mostrou a forte influência alemã no sul do Brasil e em Chichicastenango descobri que a morte pode ser vista de outro jeito, um pouco mais colorida e menos sombria.
E definitivamente, Sarajevo me alertou sobre o horror que é uma guerra, e quantas vidas e quantos sonhos agora são estão sepultados sob lápides brancas.
Cemitérios são aulas de história, filosofia, religião, artes e cultura. A maneira como uma sociedade celebra a morte conta muito dela mesmo.
Já conheceu algum cemitério enquanto turista ? Deixa um comentário pra mim!!.
Autor do blog, é formado em Ciência da Computação e atua com Marketing Digital e e-commerce por mais de 10 anos.
As viagens por quase 40 países são a inspiração para produção de conteúdo.
Além do blog, o autor escreve para colunas de turismo em jornais da região de Campinas e é blogueiro associado do Portal UAI de Minas Gerais.
compatilho com vc o interesse em visitar cemitérios, é como vc disse uma de história, cultura e religiosidade.
Oi Gabriel tudo bem ?
Apesar de parecer meio mórbido ou fúnebre, podemos mudar a forma de como vemos a morte, e ter um olhar turístico por exemplo.
Valeu por contribuir com o seu comentário.
Diego
Cemitérios me fazem pensar na vida, no que fazemos e o quanto não aproveitamos o que a vida nos oferece… muito efêmero… pretendo conhecer alguns dos quais vc conheceu. Ótimo texto, parabéns!!
Pois é João, cemitérios nos fazem pensar na vida, como as artes também o fazem.
Ver com outros olhos nos ajuda a tirar o peso do lugar.
Obrigado pela leitura.
Abraço
Já conheci o Cemitério vida Recoleta e me impressionei o quanto de flores que a Evita recebe diariamente. Em São Paulo na Consolação vi um cemitério bonito porém com sinais de depredação. A Argentina tem outro cemitério gigante (gigante mesmo), mas eu não fui por questão de distância de onde estava!
O último que vi, foi o cemitério Highgate em Londres. Legal, mas o mais belo foi o da Argentina.
Oi Raffael, tudo bem ?
Nunca fui no Cemitério da Consolação, mas dizem que merece a visita.
O Cemitério da Recoleta é um clássico de Buenos Aires. Pra mim, o mais bonito é o Pere Lachaise em Paris.
Abraço, obrigado por escrever aqui !!
Rapaz, faço uma aposta com você: Se achou o Ricoleta bonito, venha para Belo Horizonte e visite o Cemitério do Bonfim.
E depois me mande uma msg, [email protected] e diga se estou certo.
Opa Allan !!
Aceito o desafio !! Adoro BH, mas não sabia desta dica. Da próxima vez que for, vou visitar.
Abração !!