A adolescência é acompanhada de grandes sonhos e um deles é o primeiro carro.
Cresci desta maneira, sonhando em ter um automóvel para ir onde quisesse, o carro representaria a liberdade.
Posso dizer que nunca fui tão doido por automóveis, me contentava com um popular.
Minha geração cresceu assim.
Só para vocês saberem, nasci em 1976, digo minha geração porque sinto uma mudança com a galera mais jovem.
Usufruir x Possuir
Vivemos a época de usufruir e não de possuir.
Conceito complicado ? Não ! É só observar tudo o que ocorre por aí; hoje não precisamos ter um carro, mas podemos usar um pelo Uber ou qualquer outro aplicativo, não precisamos ter um apartamento na praia, mas podemos alugar pelo Airbnb.
Quer dar uma volta pela cidade ? Alugue um patinete elétrico, o qual já virou febre aqui em Campinas. Quando era criança sonhava em ter um walk machine, mas era caro e não pude. Alguém lembra disso ?
Não tenho pesquisas sobre isso, apenas uma percepção.
Porém, percebei que precisaria sair da zona de conforto e testar esta coisa de usufruir e não possuir.
Vendi meu carro para viajar
Foi então que decidi morar fora do país por um tempo e não fazia sentido algum deixar um carro plantado na garagem. Coloquei à venda.
Fiz um intercâmbio para estudar inglês em Cape Town, na África do sul. Conto tudo aqui.
Mas daí vocês podem falar que fui obrigado a vender meu carro e não valeu.
De certa forma sim, mas como sou precavido, vendi meu carro para viajar e apliquei a grana pensando assim: quando voltar para o Brasil compro outro.
Pois é, tem um ano que voltei e não comprei outro.
Como era minha vida com carro
Comprei meu primeiro carro com 20 anos e sempre trabalhei em lugares longe de casa. Meu último emprego era em Vinhedo, a mais ou menos 25 Km daqui, ou seja, dirigia 50 Km por dia.
Minha vida sempre foi entendida com carro, meu orçamento mensal e meu planejamento eram feitos baseados na propriedade de um veículo.
Mas confesso que outros motivos me fizeram desanimar de ter carros, já que tive vários sinistros: três foram roubados e um deles recuperado todo depenado, perdi um motor de um carro numa enchente, por duas vezes tive carros gravemente colididos (nunca aconteceu nada comigo), rodei meu carro numa aquaplanagem e me perdi numa curva, também fui fechado por um caminhão e acabei indo parar no guard-rail para evitar um acidente maior, fora isso tive três carros arrombados, onde roubaram meu som e step, além é claro de quebrarem a porta.
Você pode falar que não tive sorte, mas também não tenho culpa de viver em um país onde o índice de roubos é altíssimo.
Quando mudei de Itatiba para Campinas meu seguro subiu bastante na época, pois o índice de roubos aqui é mais alto.
Acredito também que quanto mais a gente dirige maior a chance de ocorrer sinistros. Se você tem um carro para ir à padaria sua chance de se envolver num acidente é bem menor.
Eu sempre dirigi, e muito.
Bom, mas como é ficar sem carro ?
Meu objetivo aqui não é incentivar ninguém a mudar de ideia, cada um sabe o que é melhor pra si, minha única intensão é contar minha experiência e inspirar quem queira mudar de vida.
Ficar sem carro tem muitas vantagens, mas é preciso abrir mão de alguma coisa.
Quanto custa ter um carro ?
A princípio vamos fazer algumas contas ?
Gente, não vou fazer contas com rigor contábil, a ideia aqui é dar um panorama geral do assunto.
Tem esta calculadora aqui, a qual simula o mais indicado para você.
O Uber também tem uma Calculadora que estima o custo do seu carro.
Precisamos entender quais são as despesas fixas, ou seja, aqueles custos que existem mesmo que você não tire seu carro da garagem, como os impostos e o seguro.
Outros valores podem contar como custo fixo, como o aluguel de garagem por exemplo.
Tem que por tudo na ponta do lápis, ou no Excel.
O custo do seguro do meu carro, um Ford Ka 2015 saia em torno de R$ 1.500,00 por ano.
Para facilitar mais o entendimento gosto de calcular o custo mensal, acho mais fácil, então seria R$ 125,00 por mês.
Arredondando o valor do IPVA, seguro obrigatório e licenciamento eu gastava uns R$ 2.000,00 ano, ou seja, R$ 167,00 por mês.
Só de custo fixo eu gastava R$ 289,00 reais por mês.
Obviamente esta é uma conta rápida, e no custo fixo de um carro precisaríamos considerar a depreciação, ou seja, quanto um carro perde de valor ano a ano, acontece que é difícil calcular isso, então vou deixá-la de fora do meu levantamento.
Eu gasto em média R$ 360,00 por mês com Uber, mas vamos entender melhor este número.
Nesta média está o custo do Uber nas minhas viagens e modéstia a parte viajo bem. Sendo assim, quando vou passar um final de semana no Rio gasto com Uber tendo ou não tendo um carro, porque sempre vou de avião ou ônibus.
Mas vamos manter este número.
Observe que ele é ainda maior que o custo fixo do mês, mas tem uma outra variável nisso tudo: depois que vendi meu carro, fiquei com a garagem vazia e pude alugá-la.
Moro num edifício antigo, onde nem todas as unidades têm garagem, deste aluguel recebo R$ 200,00 por mês.
Fazendo uma conta grosseira, estou falando de uma economia de:
Valor fixo carro próprio: R$ 289,00
Valor Uber mês: R$ 360,00
Estaria gastando R$ 71,00 a mais por mês, porém com a garagem alugada eu ainda tenho um lucro de R$ 129,00 (R$ 200 – R$ 71).
Mas peraí, tem algo que esqueci: o custo do combustível. Porque logicamente teria que por gasolina para rodar isso aí que rodo de Uber.
No final das contas, eu diria que o aluguel da minha garagem mais a economia de não ter carro paga os meus deslocamentos.
Se algum contador estiver lendo este artigo peço desculpas porque não sou profissional da área. Se quisesse ser ainda mais detalhista teria que colocar o IPTU da garagem como custo.
Dinheiro no bolso para viajar mais!!
Por aí já vemos que não vale a pena ter carro no meu caso.
E observem que não considerei manutenção, lavagem e depreciação.
Mas é preciso conhecer meu estilo de vida
Mas vamos lá, esta conta funciona para mim e talvez não para você. Por que ?
Não preciso de carro para me deslocar para o trabalho, tenho um home office.
É importante ressaltar isso pois muitos brasileiros sofrem com a falta e precariedade de transporte coletivo no Brasil, sem contar àqueles que ficam presos no trânsito das grandes cidades.
Quando decidi vender meu carro e usar Uber, também decidi que não abriria mão do conforto, ou seja, tudo o que fazia de carro faço de Uber agora. Não faria sentido vender o carro e dizer que economizou se está usando transporte coletivo.
Seria uma comparação não justa.
Quando a gente faz a conta isolada do uso de Uber podemos pensar que não vale a pena.
Vou dar um exemplo: estes dias fui ao meu médico, que fica a 2,1 km daqui, apesar de ser perto e gostar de caminhar nunca fui a pé, sempre de carro.
Seguindo minha ideia de conforto, usei Uber para ir e voltar, 7 reais cada perna, 14 reais ida e volta.
Mas vamos fazer outra continha: colocava sempre álcool no meu carro e na melhor das hipóteses o mesmo fazia 10 km por litro.
Logo para ir e voltar do meu médico, são 4,2 Km o que ficaria R$ 1,13 se tivesse meu carro. Considerando o álcool a R$ 2,7 o litro.
Esta ida ao médico ficou 12 vezes mais cara se tivesse um carro próprio.
Um amigo passou a fazer contas assim e chegou a conclusão que não valeria a pena. Parece estranho mesmo, gastei R$ 14,00 para uma viagem que gastaria R$ 1,13.
Mas tem um detalhe, não vou ao médico todo dia e os custos fixos não estão aí, mas deixa pra lá, como falei não vou entrar no rigor contábil.
Pelo que veem tenho vantagens econômicas de não ter carro, mas existem outras.
Vantagens de não ter carro e usar Uber
Conforto
Sim, é mais confortável usar Uber do que dirigir, pois a gente não precisa esquentar a cabeça com o trânsito, porém muita gente adora dirigir e isso deve ser considerado.
Estacionamento
Dirigir em grandes cidades é uma dificuldade por conta do estacionamento, com Uber ou outro aplicativo não precisamos pensar nisso.
Sinistros
Se motorista do Uber bateu o carro você não tem nada a ver com isso, caso fosse o seu, mesmo tendo seguro, você teria o custo da franquia
Tempo
O tempo dentro do Uber pode ser aproveitado para fazer outras coisas: responder e-mail, ler um livro, ouvir música, ver vídeos no youtube ou estudar são algumas opções.
Beber
Lembre-se que no Brasil a blitz da lei seca está cada vez mais constante e mesmo pessoas que têm carro precisam usar Uber para ir e voltar de festas ou lugares onde irão consumir bebidas alcoólicas.
Mas vamos lá, tem os pontos negativos também, e é preciso lembrar deles:
Pontos negativo do Uber
Tempo de espera
Infelizmente, em alguns lugares, o Uber demora mesmo.
Aqui em Campinas tem um distrito chamado Souzas e uma vez, saindo de uma festa, chamei um Uber. O tempo de espera era de 14 minutos, pensei que era muito mas resolvi aguardar, depois de 10 minutos o motorista cancelou. Pedi outro e apareceu mais 10 minutos e foi cancelado de novo. Estava na rua e começou a chover forte, fiquei ensopado e nada de Uber.
Tive que andar quase 1 Km e voltar para casa de ônibus.
Viagens mais longas
Vou dar meu exemplo, moro em Campinas mas minha família é de Itatiba, a uns 22 km daqui. Quando tinha carro, se tivesse vontade apenas decidia ir de uma hora pra outra, hoje preciso me planejar e vou de ônibus porque Uber fica muito caro.
Vou de boa, mas preciso controlar a hora de voltar, pois o último ônibus sai de lá as 18 h. Perdi um pouco da liberdade.
Viagens de final de semana
Para quem namora, viaja com amigos ou gosta de passeios românticos é quase impossível manter a qualidade das viagens sem carro. Podemos ir de ônibus, mas perderia totalmente o charme ou romantismo da viagem.
Compromissos de última hora e urgências
Sim podemos chamar um Uber a qualquer hora mas nada como pegar o carro e resolver um problema, como levar alguém doente para o hospital ou simplesmente viajar de uma hora para outra.
Uber de madrugada
Não dá pra confiar, já fiquei na mão para ir ao aeroporto e tive que ir de táxi e gastar muito mais.
Conclusão
As vantagens pesam mais que as desvantagens, e para cada desvantagem arrumei uma solução.
Tempo de espera: se estou num restaurante chamo o Uber enquanto estou pedindo a conta ou tento otimizar o tempo.
Viagens mais longas: uso muito o Bla Bla Car, tenho conforto e preço juntos.
Viagens de final de semana: alugo um carro no destino. Por exemplo, se quero passar um final de semana no litoral, vou até lá de ônibus ou Bla Bla Car e alugo um carro para me deslocar por lá.
Compromissos de última hora e urgências: ainda não achei uma saída. Ideias ?
Uber de madrugada: faço o agendamento no dia anterior.
Estas economias, junto com outras que postarei em breve, me ajudam a viajar mais.
Sempre digo que é preciso que cada um avalie seu estilo de vida e veja se as trocas são possíveis. No meu caso optei por não ter carro mas também não usar transporte coletivo, não é questão de frescura, é apenas para ser justo. Se usasse transporte coletivo minha economia seria muito maior mas perderia o conforto.
Para quem conhece meu blog e lê meus artigos sabe meu estilo de viajar e este se reflete no meu estilo de viver: não acredito naquela frase “viajar da forma mais barata possível”, tanto viajando como na minha vida em geral sempre procuro uma relação custo-benefício que traga conforto. Se custa mais caro porém vale a pena, não tenho problema nenhum em gastar mais.
Faço esta e outras economias para poder viajar mais, quando a gente não é rico tem que fazer alguma troca.
Este tipo de troca responde àquelas perguntas: “Como você consegue viajar tanto ?”
Mas nem sempre as pessoas sabem que a gente precisa abrir mão de algo, já que a vida não é um jogo ganha-ganha.
Meu objetivo não é dizer que carro não vale a pena, e para dizer a verdade, conforme citei acima, sinto falta de um automóvel quando quero fazer aquelas viagens de domingo ou de final de semana.
Também não tenho nenhum problema de mudar de ideia, pode ser que daqui a um ano compre um carro de novo, tranquilo.
Mudar não é um problema, o problema é ficar parado.
Acho que economia só vale a pena com objetivo, ou sejan economizar de um lado e gastar mais com aquilo que gostamos.
No meu caso vendi meu carro para viajar mais, e você ?
Autor do blog, é formado em Ciência da Computação e atua com Marketing Digital e e-commerce por mais de 10 anos.
As viagens por quase 40 países são a inspiração para produção de conteúdo.
Além do blog, o autor escreve para colunas de turismo em jornais da região de Campinas e é blogueiro associado do Portal UAI de Minas Gerais.
Penso nisso há muito tempo. E concordo com você Diego.
Se colocar todos os custos a vantagem de não ter carro aumenta e muito.
Para as viagens de última hora e urgência há sempre os amigos solidários. Até porque com alguém precavido, ter que recorrer a tais situações é coisa rara.
Gostei do artigo. Valeu!
Abraço
José Vânio
Juiz de Fora/MG
Olá!!
Fico muito feliz que gostou!!
Seu comentário me fez pensar o quanto precisamos de amigos e família sempre por perto.
Também fico contente em saber que o que escrevi fez sentido pra você.
Abraço!!
Não sou contador, mas já fiz essa conta muitas vezes. Eu ainda tenho carro porque preciso dele para me deslocar em vários locais, mas certamente andar de Uber é muito mais barato. Sua conta precisava incluir diversos gastos como manutenção, por exemplo e fica bem mais salgada. Um carro não custa menos de R$ 1.000,00 por mês isso sendo um popular e rodando muito pouco. Sua decisão foi a mais acertada!
Olá Leonardo,
Obrigado pela leitura.
Sim, você tem toda a razão, a conta está bem simplista.
Eu já fiz o cálculo com rigor contábil, e o carro me custava R$ 1400,00 por mês, considerando que eu rodava 50km por dia. Não coloquei muitos detalhes neste artigo porque queria só dar um panorama.
Entendo que mesmo custando caro muitas pessoas precisam ter (e pagar) para o uso no dia a dia.
Abraço
Diego
o conceito de propriedade (de ter um carro) realmente está mudando com o tempo.
O carro ainda é visto como um bem de status, mas já está mudando e, é questão de tempo, para esse conceito ser abandonado de vez.
Eu tenho carro. Sou de BH e tenho um honda fit 2012.
Não pretendo me desfazer do carro porque tenho dois filhos e o carro ajuda muito. Mas, não tenho intenção alguma de trocar por um mais novo ou modelo melhor. Carro para mim, hoje, é apenas um meio de transporte. SIM, eu já o vi como símbolo de status. Agora, só o vejo como despesa necessária (no meu caso).
Eu vou para o trabalho a pé e faço também home office. O carro normalmente é utilizado para a esposa ir na faculdade e para emergências/urgências e compras de supermercado.
Gostamos muito de viajar (no mínimo umas 3 por ano). No tocante ao carro para viajar, já combinamos (eu e esposa) que iremos alugar um nas viagens mais longas. O nosso vai ficar para uso em BH e pequenos passeios ao redor de BH.
Abraço!
Olá Gilberto,
Obrigado pela leitura.
Exato, foi justamente um conceito que quis passar no artigo.
Outra questão, como vc bem disse, é quanto ao carro como símbolo de status, principalmente no Brasil.
Gostei de saber sua opinião, bem como seu posicionamento em relação à carros.
Um abraço!!